Gel produzido por pesquisadores do ITP pretende acelerar cicatrização de feridas crônicas

01/11/2017

Não é difícil conhecer alguém ou familiar de alguém que, durante a internação hospitalar acabou desenvolvendo úlcera por pressão - anteriormente chamada de escara – e que, por isso, teve o tempo de permanência hospitalar ampliado. No Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE), no período de janeiro a abril deste ano, de acordo com Roberta Carozo Tavares, enfermeira da Comissão de Pele da instituição, foram registradas 3.548 lesões de pele das diversas categorias como ferimentos traumáticos, feridas crônicas, queimaduras, feridas infecciosas, osteomielites crônicas e lesões por pressão, sendo que este último tipo respondeu por quase 21% do total registrado, com 743 casos notificados junto ao Ministério da Saúde.

No Brasil, o número de casos novos deste tipo de problema pode chegar à 38% para pacientes acamados segundo dados da National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP) e constantes no Protocolo de Prevenção de Úlcera por pressão do Ministério da Saúde/Anvisa/Fiocruz. As feridas crônicas (sejam elas decorrentes de queimaduras, do pé diabético, de varizes, complicações de feridas cirúrgicas ou por pressão) se tornaram caso de saúde pública, pois além de deixarem os pacientes internados por mais tempo, fazem com que haja aumento de gasto com insumos hospitalares e recursos humanos, e expõem o paciente ao risco de morte por infecção generalizada.

De acordo com o Ministério da Saúde, feridas são classificadas como crônicas quando não completam a cicatrização no tempo esperado, habitualmente até 30 dias, necessitando, por vezes, de procedimentos cirúrgicos para fechamento, podendo não darem boa resposta às mais variadas intervenções.

NOVAS ALTERNATIVAS

E justamente por saber o quão preocupante é a situação de quem é acometido por ferida crônica que um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), coordenado pelo Dr. Ricardo Luiz Cavalcanti de Albuquerque Junior, pesquisador do Laboratório de Morfologia e Patologia Experimental (LMPE/ITP) vem desenvolvendo, desde 2011, um gel fotopolimerizável contendo ativos para reparo das feridas crônicas, com o objetivo de acelerar a recuperação do paciente. As pesquisas estão sendo financiadas pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (FAPITC/SE) e pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), e conta com a parceria da Dra. Juliana Cordeiro Cardoso, farmacêutica também pesquisadora do ITP.

Resultado da aplicação do gel fotopolimerizável em até 14 dias de uso contínuo

“Embora seja um caso de saúde pública grave percebemos que não há no mercado, até hoje, qualquer medicamento plenamente efetivo para o tratamento dessas feridas, para fazer com que fechem rapidamente sem que haja a necessidade de um tempo prolongado de internamento hospitalar, ou idas constantes para fazer curativos e mais, tirando o paciente do risco eminente de uma infecção ou morte decorrente desta”, relembrou o Dr. Ricardo Albuquerque.

Após alguns anos de estudo, os pesquisadores do ITP desenvolveram o gel fotopolimerizável com carreamento de medicamento fitoterápico à base de romã. Ele visa promover a recuperação tecidual e com tecnologia que faz com que seja adaptável a qualquer tipo de ferida, independente da profundidade ou extensão dela, sem que o gel escorra. E como isso acontece? Após aplicado ele é submetido à luz ultravioleta, que faz com que fique mais rígido e se adapte com facilidade à área a ser tratada, mas essa rigidez não compromete a flexibilidade da ferida.

Como é reabsorvível, à medida que a ferida vai secando ele vai sendo absorvido pela pele e promovendo a proliferação celular, por ser biomodulador e biofacilitador desta proliferação. Também serve como sistema de liberação controlada de fármacos, ou seja, ao ser degradado vai liberando o produto que está dentro dele e neste caso específico, o extrato de romã, que tem ação cicatrizante, analgésica e ainti-inflamatória, o que, de acordo com o pesquisador, é muito bem-vindo no tratamento das feridas crônicas. A romã foi escolhida por já ser utilizada pela população como elemento cicatrizante, e foi a partir desse conhecimento popular que os estudos científicos do grupo do Dr. Ricardo Albuquerque caminharam.

MAIOR ABRANGÊNCIA

O novo produto vem sanar os problemas apresentados pelos dois principais que estão à disposição no mercado para o tratamento das feridas crônicas: os hidrogéis e as membranas biológicas. De acordo com as explicações do coordenador da pesquisa, as membranas, em sua maioria, apenas protegem o ferimento do ambiente externo; não preenchem a área afetada e tampouco estimulam a renovação e proliferação celular, mecanismos biológicos que vão fechar o ferimento. Já os hidrogéis existentes no mercado escorrem com facilidade, não têm boa adaptação por causa da viscosidade e não favorecem o preenchimento da região que teve perda de massa por causa da ferida.

“O gel que desenvolvemos tem excelente adaptação às feridas e é reabsorvido ao longo do tempo. No geral, ele tem 94% de reabsorção em feridas pequenas com um tempo estimado entre 48 e 72 horas, o que é, também, o tempo necessário para a reposição. Ou seja, se for uma ferida grande e o paciente estiver em casa não vai precisar ir para o hospital todos os dias, mas de dois em dois dias, segundo nossa projeção”, disse o pesquisador.

A próxima etapa dos estudos vai ser usá-lo em animais de porte maior, como no modelo porcino e em humanos, inclusive, já foi enviado o projeto para apreciação e aprovação do comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Tiradentes. Está sendo aguardado o parecer definitivo para que o grupo de estudos seja montado. O gel carreado com o extrato da romã está patenteado e foi transformado em uma tecnologia protegida, cuja ideia já pode ser transferida para o setor industrial. Dr. Ricardo Albuquerque comentou, ainda, que embora o foco principal esteja direcionado para humanos, o hidrogel fotopolimerizável pode ser utilizado em larga escala tanto na saúde pública quanto na área veterinária.

Dr. Ricardo Albuquerque afirma que a produção desse medicamento não é de alta complexidade e custo, o que, segundo ele, é outro fator muito favorável ao produto, já que pode ser tranquilamente transposto para a escala industrial, inclusive porque a romã é de fácil cultivo em qualquer região do Brasil.



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