Nanotecnologia: avanços no tratamento da doença de Parkinson

28/09/2015

*Matéria publicada no site da FAPITEC

O mal de Parkinson é uma doença progressiva do sistema neurológico que afeta o cérebro. Ele é um dos principais distúrbios nervosos que acometem a terceira idade. É caracterizado, principalmente, por prejudicar a coordenação motora, provocar tremores e dificuldades para caminhar e se movimentar. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 3,3% dos brasileiros com mais de 70 anos possuem a doença de Parkinson.

Para buscar novas alternativas de tratamento para a doença, estudos com uso da nanotecnologia estão sendo desenvolvidos por pesquisadores do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) que são professores da Universidade Tiradentes (UNIT). O projeto é fruto do edital de Mobilidade Acadêmica desenvolvido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em parceria com a Fapitec/SE.

O doutor em Química, Luiz Pereira da Costa, conta que, desde 1960, pesquisadores no mundo realizam pesquisas na área de nanotecnologia, tendo uma busca constante por novos equipamentos e dispositivos que possam melhorar a visualização e melhorar as metodologias de preparação.  Uma nanopartícula é uma estrutura na ordem de um milhão de vezes menor que um metro. Luiz Pereira caracteriza a nanotecnologia como algo moderno e pouco visual.

“É uma estrutura de matéria que está na ordem de agregação de átomos, então, deixamos de estudar algo, do ponto de vista macro; e passamos a estudar algo do ponto de vista abaixo do micro, muito abaixo. As características de um material em escala macro, que passa para a escala nano, são de propriedades muito específicas e pontuais. Dessas propriedades, fazemos uso para as aplicações devidas. Um material em escala nanométrica tem propriedades extremamente importantes para fazer as aplicações específicas”, destaca o Dr. Luiz Pereira. Segundo o pesquisador Luiz Pereira da Costa, o objetivo do projeto é obter nanopartículas poliméricas multifuncionais. Nessas nanopartículas, ancorar fármacos para fazer a entrega inteligente, em que se tem um fármaco numa dose menor com uma entrega local.

Dr. Luiz Pereira

“A ideia é que o fármaco seja direcionado para a região onde ele vai atuar, minimizando assim os efeitos adversos e potencializando os efeitos desejados do medicamento. Isso faz com que ele permaneça um pouco mais de tempo no organismo para sua entrega. Então, daí, a denominação inteligente. Basicamente, o nosso projeto consiste em preparar e caracterizar essas nanopartículas. Já estamos em uma etapa bem avançada do projeto. Já preparamos as nanopartículas e temos imagens de Microscopia Eletrônica de Transmissão (TEM), abaixo, confirmando as suas dimensões e morfologia. Agora, estamos na etapa do ancoramento dos fármacos para, em seguida, fazermos as aplicações in vivo”, adianta o pesquisador.

O Dr. Luiz Pereira conta que já há um projeto aprovado no Comitê de Ética para estudos com o sistema formado para o tratamento de Parkinson. O projeto é desenvolvido em rede com pesquisadores de várias áreas, que estão aplicando os sistemas desenvolvidos.

“É uma rede muito grande (envolvendo Universidades de fora do país inclusive), mas, na nossa região temos poucos estudos nessa área. Já temos aqui, no Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), parcerias com colegas aplicando as nanopartículas para tratamento de Parkinson e regeneração neuronal. Outros pesquisadores estão utilizando para tratamentos hepáticos, gástricos e intestinais. Estamos tentando abordar uma linha de doenças negligenciadas que têm sido temas de pesquisas de agências de fomento como a Fapitec, CNPq e Capes. Estamos tentando desenvolver um trabalho mais multidisciplinar possível e direcionado para a população. Sabemos que, no Brasil, as coisas não são tão rápidas como gostaríamos, mas pelo menos os ensaios estão sendo voltados para aplicação em doenças que acometem muito a população. Os resultados têm sido bem promissores”, afirma o pesquisador Dr. Luiz Pereira.

Benefícios

O pesquisador Luiz Pereira explica que o tratamento com nanopartículas traz grandes benefícios para os pacientes, pois o que se busca nessa área é ganhar os efeitos bons, sem os efeitos colaterais indesejados, garantindo uma melhor qualidade de vida para os pacientes. Os estudos também são voltados para tratamento do câncer. Os pesquisadores tentam ancorar, nessas nanopartículas, moléculas que são marcadores biológicos como reconhecedores de proteínas excretadas em células cancerosas.

“Quando conseguimos ancorar marcadores nessas partículas fazemos com que a molécula de nosso interesse, reconheça a molécula que causa dano à célula e, se liguem também a ela. Isso ajuda para que  o carreamento seja feito naquela região bem pontual de maneira que sejam minimizados os grandes efeitos hoje da quimioterapia de câncer, por exemplo, então é um mundo a se pesquisar, uma linha de trabalho que abre muitos campos”, avalia.

Experimentos

Antes do monitoramento do fármaco ser realizado nos corpos humanos, muitos testes são feitos no laboratório com experimentos in vitro e in vivo (em ratos). O pesquisador Luiz Pereira detalha como é feito o experimento com as nanopartículas.

“Criamos um sistema que mimetiza o sistema biológico. Depois injetamos as nanopartículas contendo fármaco no sistema e coletamos alíquotas; e quantificamos (analisando via espectroscopia). Assim, quantifica-se o fármaco que foi liberado. Para os ensaios in vivo, induz-se a doença e injetam-se doses para observar o comportamento dos ratos mediante o tratamento. Monitora-se a toxicidade e verifica-se qual o grau de regressão dos sintomas que o fármaco causou. Fazemos todo o estudo com nanopartículas puras, com as drogas  puras e depois com a combinação dos dois”, detalha.

Parcerias

O projeto conta com a parceria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com o Departamento de Ciências Materiais, especificamente com polímeros, e com a Universidade estadual de Campinas (Unicamp); ambas são unidades de excelência na área.  Segundo Luiz Pereira, o projeto tem uma característica multidisciplinar envolvendo várias áreas do conhecimento.

“Considera-se a multidisciplinaridade do trabalho porque temos parceiros com formação na área Biológica, Química, Física, Farmácia e Engenharia. Formamos jovens mestrandos, doutorandos e iniciantes de pesquisa com olhar mais amplo em várias áreas. Do ponto de vista da formação de recursos humanos, nós buscamos uma formação de alto nível de maneira que os meninos tenham nesse projeto essa mobilidade; na qual esses meninos vão sair de Aracaju para conhecer grandes centros de excelência de pesquisa. Do ponto de vista de formação, é fantástico”, afirma Luiz Pereira.



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